terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia Mundial do Animal - As pequenas-grandes Entrevistas

"Podemos não ser todos iguais, mas o nosso desejo de viver não é diferente."


Neste dia mundial do Animal, centremos as atenções nos nossos companheiros animais não humanos. Em prol de alguma reflexão, por vezes pelos ínvios mas amistosos caminhos do humor, aqui fica um recorte “jornalístico” da Alegoria da Primaverve com interessantes diálogos sobre a nossa relação com as demais espécies. Digno do National Geographic.

TZ – Obrigada por nos disponibilizar breves instantes. Gosta de animais?
O Esbaforido – Sim, pá claro…O meu cãozinho, aquilo é o máximo! Um amigo!
TZ – Qual é a sua opinião sobre o facto dos seres humanos se alimentarem à custa do sacrifício dos animais, aos milhões, aos biliões?
O Esbaforido – Eh pá…É assim…A gente alguma coisa tem de comer, e sempre assim se fez.
TZ – Mas há muitos médicos, nutricionistas, investigadores, estudiosos, que nos asseguram que não é necessário o consumo de produtos de origem animal para vivermos e para sermos saudáveis, para além do exemplo de tantos vegetarianos e vegans pelo mundo fora que respiram saúde e que até se livraram de muitos medicamentos com os seus hábitos alimentares! E a FAO já aprovou a dieta vegan.
O Esbaforido – Ãh?.. Pois isso não sei, só sei que alguma coisa a gente tem de meter para o saco senão pá…ah ah Está a ver. Tenho mesmo de ir agora ãh?, sorte!


TZ- Muito obrigada por nos conceder a sua atenção. Tem algum animal doméstico?
O Contemplativo – Não tenho. Mas aprecio.
TZ – Aprecia por gostar de animais, ou pela relação interessante que se estabelece entre estes e nós, seres humanos?
O Contemplativo – Por ambas as razões. Os animais são muito dedicados, engraçados, e ajudam-nos a sociabilizar. (Eu pessoalmente detesto a massa, se me permite o desabafo, e gosto de viver de forma independente, mas as virtudes dos animais são inegáveis).
TZ – E qual é a sua perspectiva sobre o morticínio massivo de animais para consumo humano? Como sabemos, há estudos diversos, e exemplos práticos que confirmam a não necessidade de carne, peixe, produtos animais e de origem animal para a nossa saúde.Há alimentos alternativos e até suplementos para a vitamina B12 – da qual carecemos em pequenas quantidades.
O Contemplativo – (pausa) Bom, há estudos que dizem tudo. E infelizmente, a morte é certa. Como diz o povo, lá teremos de morrer de alguma coisa. É muito triste, a morte, mas é um facto. Fatídico. (Sorriso lúgubre e muito delicado.)
TZ – Sendo a morte inevitável (mas “prognósticos só no final do jogo” eh eh ), o sofrimento pode ser evitável ao máximo. Será que estamos a dar o nosso melhor pelos nossos companheiros de Planeta não humanos?
O Contemplativo – Sem dúvida que não. (Pausa.) Não. Há muitos animais que são abandonados e até maltratados.
TZ -  Mas mais ainda são mortos. Todos os dias. Para os comermos. E não precisamos. O que acha disso?
O Contemplativo – Na verdade acho que é uma tradição que nunca desaparecerá. São assim os tempos.
TZ – No entanto, o nosso olhar crítico sobre a forma de viver e sobre as pessoas que somos pode mudar as tradições. Ou não?
O Contemplativo – (pausa) Pode ser que sim. Pode ser que não. Quem sabe? (Sorriso bondoso.)
TZ – Cada um de nós sabe?
O Contemplativo – Pois. Pode ser. São assim os tempos.
TZ – E, por exemplo, da sua parte, o que pensa que pode ou deve fazer quanto a esta situação?
O Contemplativo – Sinceramente, nada. Eu observo os tempos e vou vivendo.


TZ – Obrigada por parar e dar-nos uns momentos preciosos do seu tempo. O que é que acha da vida das vaquinhas , encurtada a 80 ou 90% para que as comamos? Entre outros animais, naturalmente.
O Abespinhado – Eh pá, se é para dar dinheiro às Associações de Animais isso não que a coisa está muito má por estes lados…
TZ – Não, nada disso. É apenas uma entrevista, aliás, uma troca de ideias. Já alguma vez deu consigo a pensar na vida e na morte desses animais? Das vaquinhas, por exemplo?
O Abespinhado – Pois mas elas existem mesmo para isso. Eh eh. É chato, realmente, a gente devia poder comer do ar mas não dá. Eu nem gosto de vacas pá.
TZ – E de cães, gatos, passaritos?
O Abespinhado – Tive um canarito por 10 anos e depois morreu olha, nunca mais tive nenhum. Era um bom compincha. Mas ele é ele e eu sou eu. Eh eh.
TZ – Não acredita que se estabeleça uma relação afectiva entre pessoas e animais? Entreajuda, carinho, amizade, respeito?
O Abespinhado – Ná pá! Eles são eles e nós somos nós. Vaquinhas, canarinho, cavalos, éguas, burros!...Eles são eles e nós somos nós, é assim. Sempre foi e sempre será.
TZ – E…hum…tem de ser assim por que razão, para além de ser tradição?
O Abespinhado – Oh pá sei lá, não leve a mal você é meio chata…Olhe, não leve a mal, vem aí o eléctrico, vou!...


TZ – Obrigada por nos dar este bocadinho. A senhora tem animais?
A Amável – Obrigada. Tenho sim, três gatinhos.
TZ – E consome animais?
A Amável (acercando-se) – Como diz?
TZ – Consome animais, costuma comê-los?
A Amável (quase em persignação) – Não, credo! Aos meus gatinhos, nunca menina!
TZ – Não, referia-me a outros animais. Vacas, porcos, atuns, por exemplo.
A Amável (sorrindo de alívio) – Oh, sim! Mas isso é diferente, esses são para comer!
TZ – Por exemplo, os hindus não comem vacas, são sagradas para a sua religião. Já viu como são pacíficas nos campos, como nos olham curiosas, como são ligadas aos seus filhotes? Qual é a diferença entre uma vaca e um gato?
A Amável – Pois, eu percebo, os animais sofrem. Mas há uns para comer e outros não, não é? Nós precisamos de alimento e de nutrientes, não podemos evitar.
TZ – Mas qual é a diferença, no seu ponto de vista, entre uma vaca e um gato?
A Amável – Bem, a vaca é um bicho muito grande, que não se dá em casas, mas no campo. São bichos criados para abater, coitadinhos, mas é essa a verdade.
TZ – Mas a senhora considera que a vaca, por exemplo, tem uma capacidade inferior de sentir dor, prazer, medo, conforto ou alegria que um gato?
A Amável – Sei lá coitadinhas. A gente também as vê sempre lá longe a pastar quando andamos pelas aldeias, não se percebe bem se estão contentes ou tristes. Certamente sentirão dor, são criaturas de Deus.
TZ – Falando em Deus, é de opinião que Ele concordaria com a forma como tratamos os demais animais, seres vivos como nós?
A Amável – Mas se Ele os criou foi para isso mesmo, menina. Penso eu. Eu não gosto de maltratar nenhum. Eu não mato nenhum.
TZ – Mas no fundo paga para alguém o fazer, pois consome-os.
A Amável – Bom, eu não pago para o fazerem. Eu vou ao mercado e eles já estão lá.
TZ – Em sinceridade, a senhora não acredita que há meios alternativos, hoje em dia, mais do que suficientes? Tofu, seitan, soja, todas as leguminosas, cereais, tempeh, cogumelos, e tantas mais coisas, para além da carne e do peixe? Ou melhor, não acredita que poderíamos, com a variedade de que hoje dispomos, viver com saúde sem matar animais?
A Amável (pausa) – Olhe menina, é possível. Mas é assim olhe.


TZ – Muito obrigada por aceitar esta breve entrevista. Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de perguntar-lhe se não a choca a forma como os tratamos: animais abandonados, animais maltratados e, em quantidades incontáveis, animais mortos para nosso alimento.
A Moderna – A mim não me choca. É a lei da vida, é a cadeia alimentar.
TZ – Mas não considera que nós podemos mudar as leis da vida até certo ponto, desde que queiramos? E por que é que é uma lei? Temos direitos sobre as vidas de outros seres?
A Moderna – De outros seres humanos não, mas dos animais sim. Eles são irracionais e basicamente existem, enquadram-se nos seus ecossistemas mas existem para consumo. Senão nem existiam. Ia dar ao mesmo.
TZ – Mas acha mesmo que é o mesmo não existir por nunca ter sido concebido ou existir, sofrer, ser separado dos filhos, dos pais, penar mil torturas e dores físicas, medo, extrema ansiedade, e finalmente morrer sem o direito a uma vida, à vida que seria a sua se não lha tirassem?
A Moderna – Não, essas visões estão ultrapassadas. O Homem já convive perfeitamente com a ideia de ser um omnívoro, e há métodos de abatimento não cruéis.
TZ – Mas há-os muito cruéis, fora toda a forma como são criados. Imagine uma galinha a viver permanentemente com a dor de ter as suas patinhas em fios de arame enquanto põe ovos, ou uma vaca a ser engravidada constantemente para ter leite, e a chorar dias a fio pelos seus filhos que foram levados para, por sua vez, viverem em cubículos irrespiráveis para não ganharem músculo e permitirem a degustação da carne tenra. Poderemos chamar humanista a um sistema semelhante?
A Moderna – Dores e males há em tudo na vida. Temos de lidar com a ideia da finitude, do sofrimento e da morte.
TZ – Mas há sofrimentos e mortes evitáveis, e vidas deploráveis. Não acredita na liberdade de cada ser para usufruir do seu direito à vida?
A Moderna – Acredito acima de tudo na liberdade. Mas a liberdade não assiste aos animais.
TZ – Mas é isso mesmo que gostaria que me clarificasse. Não lhes assiste a liberdade por serem, como diz, irracionais, por não serem humanos?
A Moderna – É isso.
TZ – O facto de sentirem dor, prazer, medo, alegria, conforto ou alívio, de estabelecerem as suas próprias relações sociais e familiares, e de contribuírem, em muitos casos, para uma relação de ternura com os seres humanos não acrescenta um outro ponto de vista a essa perspectiva?
A Moderna – Não.


TZ – Obrigada por parar. Este dia não está fácil…Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de saber se não considera uma insanidade sem nome, uma tremenda de uma sacanice, desculpe os termos, o que se faz com os animais diariamente. Maus tratos, morticínio, morticínio, morticínio…
O Atento  - Obrigado. Eu não tenho animais. Mas não consumo animais. Há 10 anos. Como ovos e lacticínios mas estou a pensar tornar-me vegan, e já ando a ler muito a esse respeito.
TZ – (olhar no vazio) – Mas não considera que os animais têm, como nós, o direito à sua dignidade existencial?
O Atento (admirado) – Naturalmente! Por isso não os consumo.
TZ – Mas não considera isso uma contradição do caraças? Respeita-os muito, tem muita pena e pumba, consome-os?
O Atento (em direcção à estupefacção) – Mas minha senhora, justamente. Não os consumo.
TZ – (colérica) – Consome, consome! Acabou de dizer que os consome, que dá dinheiro para lhes racharem as cabeças, os cascos, estraçalharem as guelras, violentarem as vacas com máquinas toda a sua vida!
O Atento (tomando as rédeas ao problema) – Calma. Por favor. Eu já percebi tudo. É a habituação, não passa de uma alucinação auditiva. Minha senhora, por favor, leia os meus lábios, confie em mim: Eu NÃO como animais. Eu NÃO como animais, compreende agora? Simplesmente não os como. Há 10 anos. NÃO como.
TZ  (de olhos esbugalhados e sentindo-se empalidecer e subitamente renascer) – Oh! Oh, mas mil, milhões de perdões. Por favor desculpe-me. Foi, como diz…o hábito. Turva-nos, tolda-nos, enlouquece-nos. Hum…Portanto, não come animais, não é?
O Atento (a sorrir francamente) – Não, não como, esteja tranquila. Há 10 anos. E gosto muito. Vivo muito bem assim, está tudo bem com a minha saúde, não tenho qualquer tipo de saudades de contribuir para o seu sacrifício. Durante muito tempo nem pensava nisso, mas depois de ter pensado…Não pude deixar de continuar a pensar. É viciante. (Sorriso caloroso.)
TZ – Oh…Muito obrigada. Não, não é? (Acrescento muito, muito tímido.)
O Atento (continuando a sorrir tranquilamente) – Não. Não como animais. Há 10 anos. Não. Mesmo.

Fosse esta a proporção! Um em seis. Durante muito tempo pouco diferente fui dos outros cinco. Durante toda a minha vida até agora, aos 35 anos.
Feliz Dia do Animal para todos.
Ah e...pensem um pouco em tudo isto. Pensar é viciante, e sentir ainda mais.

2 comentários:

Pagu disse...

TZ - Boa tarde, ontem foi o dia do animal e eu queria saber a sua opini....

Mastodonte - Foi? De qual animal?

TZ - Dos animais em geral...

Mastodonte - Ah! já percebi. Está a falar do congresso do PSD. Teve piada sim senhora. Dê cá mais cinco.

TZ - Não, não, há aqui um equivoco. Estou a falar dos animais mesmo, do reino animal.

Mastodonte - Ah é isso. Tá bem. Olhe almocei uma costoleta de vitela que estava bem boa. Eh eh!

TZ - Mas é exactamente sobre isso que...

Mastodonte - E ao jantar foi um bacalhau na brasa que até cheirou a alho. Ainda hoje tenho a boca a latejar.

TZ - Mas é que....

Mastodonte - Na brasa sim, gosto de umas boas brasas...eheheheh

TZ - Acha então bem que se consumam animais e portanto...

Mastodonte - Ó menina, deixe-se lá dessas coisas tofuzentas. Olhe, não quer ir ali comer um prego comigo? Comemos sem pão, se preferir, por causa dessas suas esquisitices.

Tamborim Zim disse...

ahahahahahahahahahahah Amei esta entrevista Pagu! Eu não faria melhor. É caso para dizer que me arrancou as letras da pena...da tecla...hum...da tola.

Mas fazemos assim: eu não me importo de comer o pão, que tal um hamburguer de seitan e tofu? De-li-ci-o-so!!! Fica o repto. Zim?