quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ingredientes primorosos da existência


 Caetano Veloso, Gente

Fabulosos, luminosos, estrepitosos e maravilhosos leitores, espero que perdoem esta mini-ausência mas, ainda assim, ausência. Não me esqueço de Vós um só minuto, acontece que ando numa fase especialmente bafejada de entusiasmo, motivação e contentamento profissional. Pois é, mantenho-me na casa-mãe mas mudei de Departamento. Da sala só minha passei para o andar de cima e a partilhar o espaço com meia dúzia de pessoas. Conheci várias outras. Trabalho de raiz: conceitos, estruturas, contexto, objectivos, tarefas distintas. À escala europeia, transnacional, internacional. Caso para dizer que estou a gostar muito.

No meio deste gosto ressurge também o prazer de descobrir as pessoas. Não a sua inteireza, a plena concavidade dos espíritos, os seus devaneios mais puros e mais íntimos; pequenas partes, grãos de areia que, no entanto, adquirem a expressividade graciosa das revelações importantes. Dou por mim a admirar a serenidade ou a doçura dos sorrisos, a bonomia da forma de darem boas-vindas, a lufa-lufa da vida animada da sala, com gente a entrar e a sair. Delicio-me com a troca de ideias, com os ensimanentos que vou recebendo, diverte-me a intuição de traços de carácter, vaidade, auto-exame dos interlocutores, amacia-me a tolerância e a preocupação elegante e simpática de outros. Preocupa-me genuinamente o olhar cansado, a ansiedade, a incerteza de alguns. Saboreio a troca de ideias e de visões de gente de origens nacionais muito diferentes, numa sala de reuniões com pastéis de Belém (que eu óbvia e felizmente não como porque sou vegetariana a evoluir para vegan) à espera para um coffee-break português. Admiro o brio e o profissionalismo, a atenção e a exigência. Saúdo as impressões leves e cordiais, acho bonita a preocupação das mães. Sinto ternura a dar beijinhos de primeira apresentação, a receber e a ser recebida.

Sinto-me grata por este recomeçar. E, mesmo sabendo que as pessoas conseguem reunir cargas de insuportável neura e manias sem fim (e não excluo a autora da presente posta, mas apenas porque sou elegante), não posso deixar de concluir que é maravilhoso navegarmos para além das nossas ínsulas particulares.

 A todas estas pessoas desejo boas navegações em inesquecíveis rotas, que por ora se cruzam com a minha, e por pouco me acho sensata e bom feitio.

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