quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Greve Geral - Eu faço


- Socorro, estamos aqui debaixo, socorroooo!!!...


Talvez por me sentir mais motivada por alguns factores gentis da minha vida, com várias coisas a germinar em mim, talvez porque, por outro lado, me sinta cansada e já tão expoliada pelas vicissitudes desta pestilenta crise financeira (+crise de valores+crise de imaginação+crise de vergonha), este ano demorei muito mais tempo para decidir se iria ou não aderir à Greve Geral de 24 de Novembro.

Depois é a tal história: vemos o que nos cerca, entendemos que os prejudicados são sempre os mesmos, que os sacrifícios mais pedidos são sempre a quem menos pode, que a banca, as empresas, os mercados mundiais zelam pelo lucro e impõem a sua bitola (monetária e apenas monetária) à política, aos Estados, às casas das pessoas e às particulares e universais vulnerabilidades e apreensões das pessoas, de todos nós.

Cito um excerto da obra  Understanding Environmental Philosophy, de Andrew Brennan  e Y. S. Lo, que li na página de FB do Professor Paulo Borges: "... naturalmente que os governos não querem interferir com as empresas, dados não apenas a enorme influência do sector privado, mas também os perigos associados com mudar para algo novo. A crise financeira de 2008 não levou a uma acção para reformar substancialmente o sistema financeiro, mas antes para o reforçar e manter a funcionar. Considerar controlar ou limitar o poder das grandes empresas levanta o espectro de uma intervenção que possa fazer com que as coisas vão para pior em vez de para melhor e este receio é agudo em países com horror do socialismo ou do comunismo (vistos como as alternativas óbvias ao capitalismo de livre-mercado). Um tal quadro do presente conduz a uma questão final. Há esperança para o futuro?" (2010, p. 206.)

Seja o que for o "algo novo" a que os autores aludem, terá forçosamente de passar pela revisão desta voracidade gananciosa sistémica, pela denúncia da irracionalidade e dos efeitos tragicamente lesivos da antítese lucro fácil e mirabolante/debilitação, pobreza e fome, pela erradicação das imensas marcas feudalizantes que orientam as relações entre o poder político e o poder civil, a dinâmica das relações laborais, o binómio ética-conveniência pessoal/grupal.

Como o próprio Professor Paulo Borges afirma, cada um deve entender-se como uma solução para a crise. Mas é certo que há factores objectivos que, como ferros que moem, pressionam contra essa solução e ajudam a cavar o fosso das desigualdades e do desespero.

Pagamos os despautérios, as gestões criminosas, o enriquecimento. Dilectos, pagamos com os nossos direitos, as nossas parcas economias, o nosso quinhão de esperança, pagamos com tudo isso o enriquecimento diarreico da alta finança, a estultícia e venalidade dos governos, a impassibilidade mental e actuante das massas. A nossa impassibilidade crítica face à crise. Assinamos por baixo, anuímos tácita ou explicitamente a teorias que dão como inevitável o caminho do estrangulamento dos povos, fazemos vénias desgostosas, mas ainda assim vénias, à ilimitada crueza da especulação, especulação, especulação.

Eu sou daqueles que querem pôr em causa o sistema e as prioridades que nos aprisionam. Dos que acreditam que é possível a promoção da paz e da dignidade de todos, mas que justamente esses valores obrigam a alterações revolucinárias na nossa mentalidade e na nossa praxis cidadã.

E é em nome dessa convicção que adiro à manifestação efectiva e simbólica que é a Greve Geral para dizer que sou mais uma contra a onda do "vale tudo". Por um novo paradigma.

É o "algo novo", é o "algo novo" que se impõe. E agora, como sempre, é a Hora. Mas há agoras mais prementes do que outros e este é definitivamente um desses.

Bem vistas as coisas, foi a minha consciência que ouvi.

2 comentários:

Pagu disse...

Sou a favor do direito à greve mas contra o fazer greve.

Contraditório q.b, eu sei.

Acho que as pessoas fazem greve para não irem trabalhar e para ficarem em casa a dormir ou ir para os centros comerciais fazer compras e beber a bica.

Na hora do vamos ver, há não sei quantos milhares que fizeram greve e duas ou três centenas que se manifestam, falam, criticam, empinam cartazes de ordem (e também alguma desordem) e protesto.

A esses respeito a opção de fazerem greve.

Quanto aos outros, durmam e façam compras ao fim de semana.

Tamborim Zim disse...

N é contraditória a opinião, dilecta Pagu, mas deves saber q enferma de problemas.
Acho injusto dizer-se q as pessoas fazem greve p n irem trabalhar. As pessoas fazem greve pq se sentem descontentes c medidas discutíveis, desiguais e estranguladoras, e utilizam um meio oficial e formal q é a greve p o demonstrar, e tb nalguns casos (meu incluído), p se demarcarem de um sistema q rebenta por todos os lados.
No ano passado andei c o meu cartaz pela rua à procura de algum movimento p me juntar e manifestar no dia da greve, e acabei a marchar c os anarquistas. Gostei, mas eu n sou anarquista. Enfim, depois de estranhar a ausência de manifs maiores no dia da greve foi-me explicado por quem sabe q por princípio o dia de greve n é especificamente dedicado à manifestação, mas sim à paralização, apesar de algumas concentrações. Este ano segui essa ideia e n fui à manif , e dps fiquei c uma certa pena, n sabia q teria aquela expressão. Tenho-me manifesto várias vezes, como sabes, pelo q n sou uma desertora das justas manifs.
N esquecer, ainda, q as greves, os sindicatos, as lutas dos trabalhadores têm sido de gde valia p chamar a atenção e melhorar a situação de todos, os q aderem e os q n aderem.