terça-feira, 8 de novembro de 2011

Nem Medina nem Meca nos salvam!

Foto de Zim: De tanto pensar no apagão e na solução nacional fiquei assim


Bom, como se não bastasse o dia de molho que passei, ainda me calhou na rifa (não, brinco, foi intencional) assistir ao programa Olhos nos Olhos, que nunca vejo. E se há coisa verdadeira é que ao olhar de águia alerta do Medina Carreira iam respondendo os olhos arregalados da Judite de Sousa, numa quiçá tentativa de estancar o inestancável, ou de evitar o inevitável, ou de mudar o imutável. Para mim a demógrafa também esteve muito bem, era o que mais faltava o factor envelhecimento ser um problema em si mesmo! Evidentemente que o que há a fazer é saber responder às exigências da sociedade tal como a temos, até porque países sãos terão velhos, e muitos, e bons velhos, e nem ousem tirar-me de mim porque quem pensa que os idosos são trapos velhos imprestáveis é que não deve mesmo servir para grande coisa, concretizando, para nada.

Mas isto também para dizer que serviu este programa para me clarificar alguns pontos-chave:

1º - Não é assim tão preocupante não ter ainda uma casa. Segundo Medina Carreira, o que acontecerá é que as pessoas irão massivamente entregá-las aos bancos porque...

2º - Não haverá reformas para ninguém, ou serão simbólicas, como o próprio esclareceu a uma palidíssima (mas era da maquilhagem) Judite de Sousa. (Eu gosto muito da Judite de Sousa, atenção.)

3º - Isto não vai lá, ainda segundo Medina Carreira, com o aumento da idade para reforma, com trabalhos em tempo parcial, com mais gente a trabalhar até mais tarde, simplesmente porque...

4º - Não há o que trabalhar. Sim, não há trabalho para tanta gente, afiança o fiscalista.

5º - A economia encontra-se em processo de desindustrialização, a estrutura socioeconómica divergindo, assim, dos fundamentos nos quais se criou e consolidou, o que vai dar...

6º - À dura e crua realidade de: não haver trabalho para todos, de não haver trabalhos para a vida, mas sim uma precariedade em acentuada expansão, de não haver cá reformas garantidas e de os direitos adquiridos serem "quando houver dinheiro".

Pois, e o optimismo, etc..."Ó Judite mas estamos aqui para dizer a verdade às pessoas ou para fadinhos?", exasperava Medina Carreira.

Bom. E é isto. O que há a fazer? Segundo este lúcido profeta da desgraça, puxar por nós. Ok, contudo fica a pergunta...como? E, já agora, puxar por...onde?

Mas tudo se transforma. À velocidade da luz, já noutro canal se discutiam matrizes igualmente fundantes de uma cosmogonia consciente e à frente do próprio Cronos. Com foros de filologia e hermenêutica, discutia-se com pressurosa ciência o caso de Javi Garcia ter ou não chamado "preto de merda" ao Alan, ou aliás...optava-se por uma espécie de agnosticismo quanto ao tema: vá lá saber-se, é uma palavra contra a outra. E logo se convocavam dixotes à escala internacional, como uma vez em que um chamou a outro "preto do diabo", certamente em carga significativa menos pesada, ou aventando-se quantas vezes o Eusébio terá ouvido referências cromáticas à sua passagem. Cogitações, no entanto, mediadas por outro grande adensar da dúvida nacional, ou melhor: qual a verdade sobre o apagão de Braga? Bandarra, fazes-nos falta! Um triplo apagão, para mais. Agora que escrevo sobre estas dialécticas ocorrem-me as palavras de Teixeira de Pascoaes sobre a luz ser "cada vez mais clara, e a treva cada vez mais negra". Calma, calma, que com luz não estaria com certeza o grande pensador a falar da...cof...da Luz. Correcto?

Não sei o que pensam aí desse lado, mas eu creio que, face a tudo isto, um cidadão teria direito a, no mínimo, exigir dois dias para meditação, extra férias. Há que decidir com alguma calma se faz sentido continuar, se retiramos para o campo e preparamos uma Reconquista Cidadã, ainda que com "avanços e recuos" como a outra. Mas claro, com esta espúria lei do mais forte todos nos sentimos enfraquecidos, e já se sabe que a fraqueza nem sempre convida à franqueza.

A propósito, tentava ainda Judite de Sousa uma variação sobre o real quando arremeteu, esperançosa, com o "darwinismo laboral" (oba, oba, há que ser muito bom e o mais forte no batente, porque esses sim, vingarão!), mas foi água mole contra a pedra dura da robusta consciência pragmática: "Isso são fadinhos!", dedurava Medina.

Sinto-me A Pensadora de Rodin, se a houvesse. Sentamo-nos? Sentimo-nos, (para sermos filhos de boa gente, segundo o povo), alienamo-nos e formamos uma cooperativa de amantes de dança contemporânea difícil, ou mesmo hierática?

Quem tiver uma grande ideia disponha da caixinha de comentários - livre até começar a cobrar pelo espacinho para fazer pela vida. Vamos lá pôr essa inventiva a funcionar, que o sarilho está entre nós.

2 comentários:

Pagu disse...

Fabuloso post! magnifico!

É verdade sim, os temas passam à velocidade da luz e a única coisa que ainda parece unanimizar opiniões é, neste momento, o péssimo estado do relvado do estádio Bilino Polje, em Zenica, onde Portugal discute o apuramento para o Euro-2012, onde eu espero sinceramente que não consigamos meter os pés.

Para vergonha já basta a nacional e as misérias e a roupa suja lavam-se em casa, escusamos de ir para um Europeu fazer mais do mesmo, leia-se, a miséria do costume.

Tamborim, isto está mesmo é para ir para o mato.

Tamborim Zim disse...

ahahahaha o Estado do relvado é realmente de uma unanimidade reconfortante, é caso p bendizer o mau tempo! Tuga unido é tuga fortalecido animicamente, no fundo n gostamos de "estar de mal". Ou de ser originais? Hum, isso é ir longe...
P o mato:presente! Alguma gde ideia?