domingo, 19 de fevereiro de 2012

Les Magnifiques Aventures de Tamborim Zim

A Doida, Seu Jorge * (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha / Leandro Fab)

Mademoiselle Zim, que de tão pouca bagagem exclusivamente de mão tanta consegue desdobrar entre casacão, cachecol-mantilha-manta-cobertor, mochila atafulhada de coisas e as mãozinhas com telemóvel, cartão de embarque (ce) e Cartão do Cidadão (CC - enquanto a cidadania for superior ao Embarque por lhe merecer inicial maiúscula não pode o Cosmos avançar nem os homens civilizar-se!), preparava-se para o controlo de bagagens. Almejava eu o belo do free-shop, pois queria comprar chocolates (pretos, é claro, sem leite). Beberiquei a água à pressa e deitei a garrafa fora, que é sempre aborrecido fazermos aquela cara murcha quando os controladores se abarbatam à garrafa eles próprios e no-la tiram - isto apesar de sabermos muito bem que não temos o direito de levá-la, e que nem deveríamos fazer as pessoas perder tempo com as nossas distrações. Pergunta-me o senhor se tinha líquidos, sosseguei-o que não. Viu o CC e cumprimentou, numa toadinha brazuca: "Tudo bem?". Eu que sim, obrigada. "Brasileiro?" Creio que disse que era. Depois concluiu uma coisa que me pareceu: "Há aqui águas." Eu: "Águas?!" Depois de uns segundos de desentendimento, lá me explicou: "Botas". Hum...diacho. Sim, levava botas e já me tinha livrado na Portelinha da seca de as tirar, ah, mais pas a Orly! "Quer que tire?" Que sim. Fico imediatamente com aquela vergonha estúpida que se me abate nestas situações. Ao constrangimento e baralhação das alpercatazinhas em papel que o senhor me deu, o que me fez ainda mais triste quando me vi e senti com as ditas nos pés,  juntou-se o incomodatício facto de já ter não sei quantas coisas nas mãos, o que me fez colocar CC e ce em cima da cobertura do tapete rolante. Lá dei adeuses e mais bonjours e fui recolher os meus pertences em miríades de tabuleiros. Estas botas têm um problema em ambos os fechos que, dependendo da sorte, do engenho e do stress, consigo resolver mais depressa ou mais devagar. O primeiro....zzzzzip, zás, ok. Dei graças. O segundo...cof cof...Já toda dobrada, irritada e a ofegar, desisti de tentar fechar a bota sob pena de provocar um engarrafamento. Peguei em tudo e ia sentar-me numa cadeirinha para proceder em conformidade. Hum...onde é que está o ce?? Com mil brecas! Voltei atrás e lá arranquei o papel que estava tranquilamente onde o deixara. Sentei-me e comecei por tentar fechar a bota. Apre bolas!! E o CC??? Um senhor sentado ali por perto falava ao telefone em espanhol, ora bem, um nuestro hermano. Fiz-lhe o gesto universal de perguntar se ele me dava um olhinho, ou des petits yeux, ou una "miradia" às coisas, ao que ele simpaticamente assentiu, e eis-me de botilde aberta a caminhar para o controlo. Fiz uma cara de aflição inquiridora ao meu amigo controlador, que me mostrou, com segurança confiante, um cartãozinho que tirou de cima do balcão. Ai, saravá, saravá. Sorrisinhos com os senhores, torcendo para que me não detivessem, volto para o meu lugar. Agradeci ao espanhol com uma mistura de namasté e alívio, ele ok com o polegar, ainda ao telefone, tudo fixe. Mais uma vez me contorci toda por cima da bota, a ferver e morta por me ver noutro cenário e ir morder chocolates (darks meu povo, darks). O fecho não cedia e eu pensava na cara de mico que ostentaria caso o gentil senhor terminasse o telefonema e se visse, ele próprio, forçado a tentar ajudar-me com o fecho da botinha chamejante escarlate com interior "cor-de-laranja-saiam-da-frente-estilo-é-meu-nome". Reuni a força, a minúcia, a perseverança e... eh bien, resultou! Fechou-se a sapata.

Peguei nas trouxas todas e dirigi-me à casa-de-banho. De caminho ouço "Madame, Madame!" e pensei, aborrecida, no que me quereriam. Era um senhor que prestavelmente me entregava o "cachecol-mantilha-manta-cobertor", que por certo jazia no chão quando, com a casa às costas, me preparava para o perder. Muitos merci biens e tal e chose e lá me enfiei na casinha. Perder mais um acessório depois de ter ficado sem o meu gracioso gorrinho nos andanças parisienses seria, como direi...trop. Muito do trop!


P.S. - Na verdade a confusão faz-me pensar se a ordem dos acontecimentos foi exatamente esta mas...foi muito próxima, afianço.

* Tão bonitinho não é? Amo.

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