quarta-feira, 13 de junho de 2012

Nelson Motta - Muito Fã

Enquanto continuo irritadíssima com o facto de não conseguir colocar fotos neste prodigioso blog, persisto com a minha tarefa de escrevinhadora de pensamentos a esmo, pedindo agora que imaginem. Sim, estimado leitor, imagine um homem de cabelo branco, rosto agradável, sotaque carioca com voz de sol, óculos escuros. Pronto, eis Nelson Motta. É dele que falo hoje na Alegoria.

Ontem, num daqueles bons acasos do zapping, vi um pouco do programa Bairro Alto apenas porque, ao virar de canal, me deparo com esta fantástica figura, de que sou declarada admiradora há anos.

Em primeiro lugar, a expressividade do Nelson Motta, como se alude acima, é irresistível. Ele é "o" conversador, e nato. Digamos que o seu talento de conversar é uma extensão, ou até a origem natural, de todos os outros. Entre outros pontos altos da sua longa carreira de tantas realizações, Nelson Motta foi o produtor musical de Elis Regina, Tim Maia, e de Marisa Monte, a Diva. Com Marisa Monte, Nelson Motta fez o que o próprio designa de "Tese de Mestrado", uma pesquisa aturada de repertório, cuidadosa preparação de uma carreira e do primeiro disco tendo como única condicionante a excelência artística e a originalidade maravilhosa dos predicados de Marisa. Esse brilho está bem patente no luxo do primeiro disco da cantora e compositora, cujo espírito permanece na carreira da Diva.

Mas Nelson Motta não apenas produziu musicalmente, e muito bem, grandes nomes da música popular brasileira (e não só, pelo menos um disco de gospel de um coro norte-americano contou também com o seu dedo mágico). Também compôs, deu letras a canções, escreveu um número incontável de crónicas e publicou vários livros com temáticas tão diferentes quanto o futebol, a música popular brasileira, a biografia e o romance. A sua escrita, de resto, espelha todo o sabor da expressão de Motta: todas as cores rebentam, todos os sentidos dançam, entre uma narrativa totalmente fluída e indefetivelmente sedutora. Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo é, por exemplo, um romance maravilhoso que apenas ao mencioná-lo já sinto vontade de reler integralmente.

Essencialmente, Nelson Motta é muito coerente na variedade louca daquilo a que se propõe: ama a vida e celebra a Grande Viagem em tudo o que toca. Por isso o meu abraço e admiração gigante, e a vontade de que frua e seja fruído sem fim.

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