sábado, 7 de julho de 2012

Relvas - o direito à defesa

- Contra os marrões marchai, marchaiiiii!...

Caro leitorado exigente e sagaz, nesta enevoada e esconsa manhã de sábado, a Alegoria levanta-se e responde ao chamado que lhe é peculiar em defesa dos fracos, oprimidos e ou injustiçados. Lá dizia Che Guevara que a maior virtude de um revolucionário é estar atento à opressão em qualquer parte do mundo. Todos sabem das desgraças na Síria, da carência da África profunda, das inenarráveis violências no Iémen, no Irão, e em tantos lugares terminados em ditongos. Mas convirá, convirá, leitor estimado, não esquecermos o que de menos justo se processa perto de nós, mesmo dentro da nossa casa-Nação. (Estaremos bem de intróito?)

Venho hoje expressar a minha solidariedade não só para com o Ministro Relvas, mas por todos quantos se encontram na sua situação. Teremos de ser pacientes e de concretizar os factos e os motivos que são invocados para o seu ataque público, e só depois julgar. Assim como fez o Tribunal Constitucional. Pode este último caso servir-nos de exemplo de análise - o Ministro Relvas.

Insurge-se o povo porque o Ministro concluiu num ano, com a devida aprovação, uma Licenciatura que se encontra prevista para três anos (massas bolonhesas). Através da atribuição de créditos, ganhos por equivalência de experiência profissional e, certamente, mundividente, o cidadão em referência conquista o seu grau académico, com o beneplácito do estabelecimento de ensino que frequentou (sic). Esta última ideia é de reter: a Universidade Lusófona proporcionou estas equivalências a dezenas e dezenas de outros alunos, cerca de 90. Ou seja: há ilicitude curricular, escolar, institucional na célere conclusão dos estudos do Ministro? Não.

E agora debrucemo-nos, amigos, sobre o espírito da situação. Temos um jovem politicamente ativo, como tantos da sua geração, que passou certamente a sua existência numa intensa cruzada pelo Bem, a defender os humilhados, os esfomeados, os deserdados e os desolados; a instruir-se nos imensos mas esclarecedores escolhos da escola da Vida; a fazer contactos, sociabilizando e desenvolvendo uma dialética existencial de compreensão, empatia e intelectual desafio com o seu semelhante; a tentar, em suma, reunir as suas melhores qualidades para semear um futuro melhor para a Nação. Vamos exigir, em sã consciência, que toda esta façanhuda travessia se realize tendo por obrigação o estacionamento nas salas, anfiteatros e bibliotecas das Faculdades? Na fila da secretaria? Nas horas difíceis de leitura de infinitos capítulos e livros, na dificultosa tarefa de ouvir os professores horas a fio, de anotar, reter, interpretar, criticar e sintetizar? Nos longos trabalhos, nas fatigantes pesquisas, nos dolorosos confrontos com os cansaços da madrugada? Isso, diletos, é para o povo comum, para quem se não propõe nada mais do que concluir os estudos, arranjar um qualquer trabalho, casar, procriar, trair, deprimir e desanuviar na novela, no futebol ou na rede social. Não vamos, contudo, medir todos os seres humanos pela mesma altura, menos ainda pelo mesmo desígnio. Há os que asseguram a manutenção da ordem existente, e os que rasgam penosa mas corajosamente os horizontes do porvir. E a esses, a esses, a exceção tem de ser permitida. Caramba.

Num País que se acusa de ser burrocrático, lento, com a mania dos Doutorismos, saloio, deslumbrado, com médias de conclusão de cursos superiores de oito anos (média de há alguns anos atrás, pelo menos), vamos continuar enfurecidos e a congeminar golpes de Estado, na digestão das nossas iras, porque Relvas assumiu a necessidade de rapidez e fez a sua escolha: menos teoria e mais ação? As deslocações a Bruxelas e ao mundo, os almoços e jantares, as conversas graves nas quais se decidiam, longe das vistas vulgares, os rumos do mundo, não serão mais instrutivos do que uma simples cadeira de Relações Internacionais? Para quê ler, camaradas, se podemos fazer e ser parte das próprias relações? Para quê interpretar se nos relacionamos? Qual é a justificação para fazermos Portugal e os portugueses esperarem? Sublinhar capítulos, lamber papel, debater com coleguinhas ignorantes? Pois se as pessoas se aplicam e conseguem trabalhar nas mais espinhosas funções, contribuir denodadamente para o orgulho nacional e, ainda assim, concluir num ano o que a massa acaba a duras penas em três, merecerão ser apedrejadas e vilipendiadas desta maneira? A resposta só pode ser uma, e à uma a devemos proclamar: não!

No fundo, a mão que atira pedras é de inveja, a boca que profere os impropérios fá-lo por despeito. É que, meus caros, não é bem assim que "depressa e bem não há quem". Não é para todos, a verdade é essa. Habituem-se e estudem, para serem alguém na vida.

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