quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Deveres de autor

A lupa intransmissível


Não digo com isto que seja uma grande espingarda (também não vale a pena alongar-me muito nesta denegação porque toda a gente sabe que não há um leão à face da Terra que não se ache o legítimo Special One), mas a verdade é esta: não alinho em carneiradas. Prefiro analisar, mais ou menos demoradamente conforme os casos. E concluir, ou aguardar a conclusão, não temer deixar pendente. Numas ocasiões, os nossos insubstituíveis veredictos bebem diretamente numa vertente mais intuitiva e emocional sendo que, noutros casos, é a nossa translúcida (!) razão que nos dirige o processo. Seja como for, importa que sejamos absolutamente autores do que escolhemos, incluindo do que escolhemos sobre a visão dos outros.
O intento implica um procedimento praticamente gourmet: primeiro, há que retirar as cascas, o diz-que-diz, o zunzum. Descascar o que os outros enrodilharam já em torno de um qualquer ser (ah, e de nós próprios, nunca tenham essa dúvida cândida de impunidade quanto ao chilrear alheio!), limpar o mais possível para que o objeto de análise se nos torne, primeiro, mais e mais objetivo. Limpo de interferência, entregue ao seu segmento mais genuíno. Deixar expressar.  Aguardar espessar. Seguidamente, temperar a crueza do olho que vê o outro para que este se exponha com o nosso próprio sabor, em doses inteligentes e discretas. Lembrai-vos, leitorado, que estais em explorações. Anuir se for o caso, dar a boa deixa, ouvir, evocar. Ser verdadeiro no que se diz. Não se trata de nenhum tipo de apologia do cinismo ou da falsidade, não. Mas de uma dose elegante e, ao mesmo tempo, eficiente de travar conhecimento, de uma ou mais pessoas, ou situações. De operar uma regeneração de alguém, por exemplo, ou da imagem de alguém, relativamente ao que outros possam veicular acerca. Cada livro é e será sempre lido de maneira distinta, dependendo do leitor. Assim é com cada qual.
Deixar atuar o tempo, o rastro das impressões mútuas, a graça ou a indiferença ou a simpatia. Devemos manter-nos na nossa autonomia inteletiva, não ceder ao facilitismo da generalização: é o que se exige de quem quer ser fiel à sua construção o mais verdadeira possível. Sabendo que será sempre construção. Kant sabia.
Ok, daí... Certamente um conceito pronto a servir será formado na nossa mente, e da compreensão colheremos pistas e motivações, bem como as consequências para a nossa relação com o outro, com a situação, etc.. Pode mesmo acontecer que recomendemos e auxiliemos uma mudança de perspetiva a partir das nossas experiências bem-sucedidas.
O risco? Ser um outsider pela vida, um terra de ninguém. Can't care less.

2 comentários:

Pagu disse...

Excelente. Grande post minha special one.

Quis dizer, Special One.

Não vá a leoa por os dentes de fora.

Tamborim Zim disse...

Ah boooooom:)) Special Oníssima és tu minha diletinha mana. Gratinha zinzins.