sábado, 15 de setembro de 2012

O Problema da Manif

Obviamente que não deixo de estar descoroçoada: pelo estado da Nação, em geral, e pelas dificuldades particularíssimas que, sobretudo os de posses mais humildes, terão de confrontar todos os dias e cada vez mais. Quase toda a gente anda a ver no que pode cortar e adia compras, médicos, viagens ou comida, ou tudo ao mesmo tempo. Nem é preciso dizer que tudo isto é trágico, triste e, sim, revoltante.
 
No dia 12 de Março de 2011 fui para a rua, com toda a convicção do mundo, manifestar-me contra a precariedade e, também, contra uma austeridade que só tira e não auxilia quase ninguém - parece que os que mais têm não estarão muito mal.
 
O problema da manifestação deste 15 de Setembro, para mim, começou logo com a primeira parte do nome: "Que se lixe a Troika...". Sinceramente, o maior problema não é a Troika, apesar dos juros e lucros gordos que todo o sistema financeiro acabará por arrecadar com a "boda ao pobre". O maior problema é que, por causa da corrupção, da irresponsabilidade, do adiamento, da desatenção, da falta de cuidado, de pensamento, de previsão, de ética, de denúncia e de punição nada é julgado, sanado, arrancado pela raiz nesta terra. Empurra-se com a barriga, e em algum momento o que é assim empurrado (leia-se quase todos nós), acaba na ravina. Claro. Lei da gravidade.
 
E depois é o País, o pobre "paísinho". A alternativa ao governo vigente, no qual não votei porque, apesar de não haver partidos políticos perfeitos, votei PAN (essencialmente porque confio na seriedade do seu líder e na beleza do seu programa), é obviamente o PS. E obviamente porque em caso de eleições antecipadas não acredito que a resposta das pessoas, infelizmente, fosse outra.Ora sucede que se há figura com que eu não empatizo minimamente (para dizer apenas isto), é o António José Seguro. Francisco Assis, sim, tem a minha simpatia. Pondero aqui pessoas, mais do que partidos, apesar destes serem máquinas trituradoras infernais das melhores intenções. A ideia de ter um governo PS de novo, que vai seguramente continuar o caminho das restrições e das injustiças, e ainda por cima com o atual líder, é mesmo muito mal recebida por Tamborim Zim. Dizer o contrário seria mentir.
 
A triste verdade é que do que precisamos não temos. Não temos um grupo preparado, idóneo, a-partidário, que possa governar esta desgovernança, pelo menos temporariamente. Ou pode existir, mas não enquanto grupo organizado. E não me venham com os militares. Não quero. Podem vir como cidadãos, ou para defender os outros cidadãos de injúria ou ameaça física. Abjuro da violência, da negação de direitos, de malefícios de quaisquer das partes envolvidas e em risco.
 
É muito triste, mas realmente ainda não existe aquilo de que mais se necessita: um País equilibrado no seu povoamento, o interior operacional ao invés de desértico, o litoral regularizado ao invés de estéril na sua selvajaria descontrolada de gente e mais gente e penúria.
 
O nosso País precisa daquilo que todas as sociedades organizadas carecem, como de pão para a boca: de uma sociedade civil crítica e atuante, que não se organize apenas na rede social, que não se estruture apenas à força formal dos parágrafos, que seja diligente, defina, proponha, comprometa e faça. Certo, o Estado, o governo, etc.. Sem dúvida, mas estes desmandos já não se compadecem com isso. Se queremos diminuir o pesar de tantos, as carências de milhares, temos de fazer mais do que escrever, e bem mais do que lamentar.
 
É dificílimo, mas as coisas nefandas não vão desaparecer num sopro, nem com a verbalização consciente das verdades. No máximo, a consciencialização pode ajudar a alterar mentalidades. Para mudar realidades é preciso mãos à obra, que transfigurem o erro em acerto, ou numa melhoria que não seja tímida e que desencadeie outras novas.
 
Triste, mas do que mais precisamos estamos tão longe: de uma revolução mental e, principalmente, sentimental. Precisamos desesperadamente de sentir e de nos tornarmos pessoas melhores, nós e os políticos e os polícias e os médicos e os construtores civis. Todos nós.
 
Precisávamos de Deus, e de que exista, e eu tanto queria que sim - e ainda não perdi a esperança.
 
Até lá, compreendam... Face a tudo isto, esta Manif de hoje fala-me tão pouco, mobiliza-me tão zero, que não tenho forças para levantar o meu cartaz, "Contra o Desespero", e marchar para a rua. E provavelmente estou errada, e até posso arrepender-me, talvez devesse engrossar o movimento, o descontentamento, o "basta"! Mas sinto profundamente nessa massificação da negação, do contra, do não, uma oceânica impotência, que quase me amordaça ainda mais do que as medidas austeras.
 
Não pretendo ter razão. Era um desabafo.

6 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Disseste tudo o que queria dizer. Mais, esta manifestação vem tarde e não pelos motivos mais nobres. É um gigantesco balão em branco na minha cabeça. Não me apeteceu levantar a pena para falar nela.

Tamborim Zim disse...

:(

Pagu disse...

Disseste tudo o que eu gostaria de o0uvir ser lido e relido a todos os portugueses.

Uma mudança emocional, moral, a começar dentro dos que escandalosa e impunemente roubam.

Mas acredito também que nos comecem a faltar as forças. Sem sulpa nunca haverá pena, sem pensa nunca haverá justiça, é a pescadinha de rabo na boca.

Tenho pena de Portugal, muita pena e talvez por isso ontem tenha ficado maravilhada com mais algumas coisas que li sobre a europa nórdica, onde, por exemplo, na Noruega, existem três baloiços por cada criança.

Hoje sou viking!

Tamborim Zim disse...

Viking eu seja! Mas tb desconfio q se fossemos mais ricos e felizes lá se nos ia a poesia, e isso é q n diacho. Levem o subsídio, mas nunca a poesia, a musa inspiradeira, o ai! kkkk

Lady Lamp disse...

Clap clap clap!

Falta-me sensatez para conseguir explicar este, que é também o meu, ponto de vista. Tendo a ferver quando abordo certos temas e este é um deles...

Beiju*

Tamborim Zim disse...

Gratinha:) Mas sabes, n foi uma decisão fácil, e ainda penso q talvez devesse ter ido. Espelhou, tão somente, um estado de espírito e um conjunto de necessidades q me apoquentam, ou nos apoquentam.