segunda-feira, 14 de novembro de 2011

NAE - No Animal Exploitation: a entrevista por Tamborim Zim


No Animal Exploitation

Fabulosas Nae B-Gun (fotos do site da NAE)
Contactos:
NAE
Rua Dr. Mário Charrua, nº35, RC – FTE. 1495 – 169 Algés. Portugal
Tel: + 351 910 535 595 email: info@nae-vegan.com

Queridos e atentos leitores, tenho a honra de iniciar do melhor modo a rubrica de entrevistas aqui na Alegoria da Primaverve, cuja periodicidade é totalmente descomprometida (na justa proporção do "quando calhar" e sempre que surgirem entrevistas interessantes no horizonte). Em jeito de nota brevíssima mas devida, faço questão de esclarecer que esta entrevista não implicou qualquer tipo de retorno material, financeiro ou outro, uma vez que foi em gentil resposta ao meu convite que se tornou realidade. As únicas trocas? As melhores: ideias, palavras e paixões.

Nuri Blue & Grey (foto do site da NAE)
Posto isto, escrevo-vos ao som de uma chuva e de uma trovoada épicas. Tudo a ver com os meus primeiros entrevistados: NAE (No Animal Exploitation). Esta empresa de calçado reúne todas as características que conquistam a minha admiração por uma marca: ética, elegância, conforto, resistência, profissionalismo e simpatia. Como perceberão, não se trata de uma simples marca, é um projecto que se desenvolve num propósito e com uma missão. Dei com eles quando procurava afanosamente sites onde encomendar calçado sem qualquer produto animal, ou seja, vegan. Dentre marcas italianas, norte-americanas, inglesas, etc., surgiu-me uma loja on-line de...Algés! Foi amor à primeira vista com um par de ténis e um par de botas, e tenho a dizer que fiquei fã da eficácia do serviço de entrega. Tudo é bonito e tudo cheira a elegância e a lisura - e nem um bocadinho a couro e a tortura de animais. Afinal, qual é a justificação para tirar vidas ou impor sofrimento para nos calçarmos?

É para dar a conhecer aos meus dilectos leitores o espírito deste meritório projecto que defende e pratica um comércio justo e ético que pedi à NAE uma entrevista, a qual simpaticamente me concederam e que muito agradeço. Não percam.

TZ - Muito obrigada por aceitarem esta entrevista a convite da Alegoria da Primaverve. NAE: No Animal Exploitation. Como é que surgiu a ideia para o nascimento desta empresa de calçado? Parte de uma filosofia, de uma necessidade?

NAE - A NAE nasceu de um desejo de criar um negócio que não fosse um negócio meramente com o objectivo do lucro, mas que fosse baseado numa filosofia com a qual os seus criadores se identificam que é uma filosofia vegana. Como tal, pensamos que seria interessante estando nós em Portugal, um país produtor de calçado por excelência, criar uma empresa de calçado vegano, i.e., sem qualquer produto de origem animal, com toda a sua produção feita em Portugal, para dar resposta à crescente procura deste tipo de produto.

TZ - Como responderiam às pessoas que afirmam que a indústria do calçado é um subproduto da exploração animal, e que os animais não são mortos de propósito para o fabrico de sapatos?

NAE - Comprar artigos em couro, nomeadamente sapatos, significa apoiar diretamente a indústria da carne e o sofrimento que ela implica, sobre os animais, as pessoas e o ambiente. Grande parte do couro produzido vem das vacas que passam grande parte das suas vidas confinadas num espaço reduzido sujeitas aos mais variados tipos de procedimentos dolorosos, como sejam a castração, corte de chifres, marcação a ferros etc., sem que tenham qualquer tipo de cuidados médico-veterinários. Está também comprovado que a indústria de curtumes produz resíduos sólidos tóxicos que têm  consequências terríveis no meio ambiente e na vida humana, por via da contaminação do ar e dos rios. Nada disto é justificável, pelo que é importante que cada vez mais as pessoas se questionem acerca da origem do que compram e usam. É urgente um aumento da consciência social relativamente ao impacto que determinadas indústrias têm na vida humana, não humana e ambiental.

Dito isto, a indústria da pele (calçado) NÃO é um subproduto da indústria alimentar, muitas vezes é o contrário, a procura da pele é tão elevada que faz descer os preços da carne. Deixe-me colocar só um pequeno exemplo que clarifica o argumento: imagine uma família com quatro elementos. No pior dos casos essa família come 2 kg de carne por dia, o que é um exagero, mas se assim fosse daria 730 kilos por ano. Isso é algo mais do que o peso de uma vaca. Portanto essa família super-carnívora cria uma procura de uma vaca por ano pela carne. Tente imaginar a quantidade de pele que pode consumir por ano uma família: sapatos, malas, cintos, casacos, pastas, etc. A pele de uma vaca não chega nem por perto para satisfazer a procura de pele de uma família para um ano, e agora imagine que essa família decide comprar um sofá em pele de quatro lugares ou comprar um automóvel com estofos em pele. Será necessária a pele de pelo menos duas vacas durante dois anos, contando que comem DOIS KILOS POR DIA.

Portanto, os animais são mais explorados pela pele que pela carne. Se deixássemos de utilizar artigos em pele, quando temos alternativas, a procura da carne iria diminuir porque o seu preço vai aumentar, um princípio básico da economia. Os animais explorados seriam menos, e o meio ambiente iria sem dúvida agradecer.

TZ - Quais são os produtos utilizados nos vossos sapatos, e quem é o responsável pelo seu design?

NAE - A NAE utiliza normalmente microfibras para substituir a pele. As microfibras são compostas por uma mistura de poliester, nylon e algodão. As percentagens variam dependendo da microfibra. Algumas mais resistentes, outras mais finas. São microfibras certificadas para calçado. Impermeáveis, transpiráveis, antialérgicas, etc. Também temos calçado com algodão, e a nova coleção de verão 2012 vai ser baseada na cortiça, material vegano, ecológico e biodegradável. Muitos destes produtos vêm da Itália uma vez que ali se fazem coisas de muita qualidade. O resto é de Portugal e Espanha. Não compramos nada fora destes países, mesmo que os preços da Ásia sejam muito mais baratos. A nossa filosofia de produzir o nosso calçado localmente também se aplica na compra das componentes. Para as solas temos muita variedade, utilizando em algumas sandálias pneus reciclados. Vamos tentar implementar este tipo de sola reciclada em mais modelos.

Em relação ao design do calçado temos diferentes maneiras de trabalhar. Alguns modelos são encarregados a designers de calçado externos à NAE. A maior parte surge de nós próprios com a ajuda dos gabinetes técnicos das próprias fábricas.

TZ - Têm verificado um aumento de procura dos vossos produtos?

NAE - Embora tenhamos começado com a NAE logo no meio desta crise, onde as pessoas perderam poder de compra, a NAE tem visto aumentar a procura dos nossos sapatos. Isto é devido a uma visibilidade maior da nossa marca nos meios, fundamentalmente na internet, assim como ao incremento dos consumidores "éticos". Por exemplo em Espanha, este último ano, onde se fecharam imensos comércios, vimos que abriram muitas lojas veganas. Isto significa que a cada dia que passa há mais pessoas a consumir de maneira mais consciente e ética, com as pessoas, com os animais e com o meio ambiente.

TZ - Qual é a sensação de se ter um negócio que é mais do que um negócio, fundamentado numa filosofia e numa ética deste modo activos - e criativos?

NAE - A sensação que sentimos é de uma grande satisfação cada vez que vendemos um par de sapatos. E essa satisfação é por saber que além de estar a fazer crescer o nosso negócio, estamos a divulgar uma filosofia em que acreditamos fortemente e a contribuir para um comércio mais ético e justo com respeito pelo meio ambiente, o sofrimento animal e a exploração laboral.

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