quarta-feira, 4 de julho de 2012

Palavra de Viajante - um belo espaço a descobrir

Palavra de Viajante (fotografia da autoria de Joana Saboeiro e gentilmente cedida pela PV)


Palavra de Viajante
Morada: Rua de São Bento nº 30, 1200-819 Lisboa
Telefone: +351 211 956 340
Site: http://palavra-de-viajante.pt/
E-mail: geral@palavra-de-viajante.pt
A Palavra de Viajante também está no Facebook.

Cada vez mais me convenço que a vida é, em grande parte, uma sucessão de aborrecimentos. Não deixa de ser maravilhosa, contudo, por causa de um pormaior: há coisas muito boas também que, mais espaçada ou permanentemente, pontuam o caminho de cores, ideias, alegrias e entusiasmos.

E é para falar aos meus diletos leitores de uma dessas coisas muito boas e instigantes que serve esta posta. Palavra de Viajante é o nome da livraria que abriu no passado Outono em Lisboa, mais precisamente na Rua de S. Bento, curiosamente em frente a uma das casas onde viveu Pessoa, Fernando Pessoa. Lá bom augúrio há!

Fazendo jus ao nome, a Palavra de Viajante dedica-se exclusivamente à temática das viagens: guias, mapas, relatos de viagens e também ficção inspirada nessa incrível aventura que é viajar ou, simplemesnte, em algum lugar em particular. Há sempre uma opinião a um tempo sóbria, entusiasmada e conhecedora que pode ajudar os mais indecisos a escolher a melhor oferta, para si ou para alguém a quem se pretenda fazer navegar no tapete voador dos livros.

Mas um bem nunca vem só: para além do espaço muito cativante deste edifício do séc. XIX, da tonalidade dominante da madeira, do bom gosto do arranjo e da simpatia amigável das proprietárias e colaboradoras, a Palavra de Viajante tem também um Café do Viajante onde se pode almoçar, lanchar, beber um vinho amistoso, uma limonada no ponto ou um sumo de morango, entre muitas outras surpresas. A que vos escreve, apaixonadamente vegan como sabeis, encanta-se com as bebidas e, em particular, com as deliciosas sopas ali confecionadas e primorosamente servidas: abóbora, cenoura, alho francês e mais, ao sabor das partes do mundo e dos palatos a homenagear. E há também detalhes irresistíveis e que remetem sempre o curioso visitante-viajante para a amplidão do mundo exterior mesmo ali, no meio daquele intimismo confortável. Convido a que os descubram.

Não resisti (porque uma das coisas que gosto de fazer na Alegoria é falar de projetos e realizações que admiro) e pedi uma entrevista a Ana Coelho, uma das sócias, que muito gentilmente acedeu. Aqui fica.

TZ - Qual é a Palavra preferida do Viajante, e porquê?

Ana Coelho - Palavra de Viajante (AC-PV) - No fim de cada viagem ficam as memórias que esta nos deixou. A viagem é a experiência, a oportunidade de conhecer, viver e sentir. Mais do que nunca, as pessoas adoram contar as suas viagens e, ao fazê-lo, estão a partilhar essa experiência. Mas também a recordá-la para si próprios. Transformar uma viagem em palavras, arrumá-la num discurso mais ou menos escorreito - mas sempre entusiasmado - é não só voltar a vivê-la, mas também tornar consciente muito do que se sentiu. E, por isso, crescer mais um pouco. Assim, não há apenas uma palavra, mas todo um discurso.

TZ - Esta livraria não é apenas um sítio onde se podem ver e comprar livros. Pode falar-nos um pouco sobre o sonho que o próprio espaço indicia?


AC-PV - Sem dúvida que muitas viagens começam com um sonho. Por vezes, este concretiza-se.         Na Palavra de Viajante queríamos que a viagem começasse assim que se cruza a porta (e se pisa o tapete Arrivals/Departures). Um espaço que tem por objectivo ser acolhedor, contribuir para que as pessoas se sintam bem, confortáveis, à vontade. Claro que tudo poderia ter sido feito apenas com a vertente da livraria, mas criar um local que convida à permanência, a ler um livro ou uma revista, a conversar serenamente como se estivéssemos em casa é tornar uma viagem em turística numa viagem em executiva. E para mais, nós, os portugueses, gostamos particularmente de estar num café a relaxar ou só a conversar ou a tomar algo. A vertente do café fez, desde o início, parte do conceito da Palavra de Viajante. Agora que vemos o projecto a concretizar-se, achamos que não poderia ter sido de outra maneira.

TZ - Consegue caraterizar em termos genéricos o tipo de visitante mais assíduo da Palavra de Viajante?

AC-PV - É difícil, pois quem nos procura, mesmo mais assiduamente, fá-lo por razões muito distintas: desde a cliente que adora as nossas sopas e aparece sobretudo à hora de almoço a pessoas que já não viajam ser vir cá comprar um guia, um mapa ou literatura de viagem para se entreterem
no avião.

Se há uma característica que é comum a todos estes visitantes mais assíduos é a capacidade de valorizar um projecto que fizeram questão de sentir como seu.

TZ - Quais são as viagens que nos levam mais longe: as geográficas ou as literárias?

 

AC-PV - Para mim, que sou uma leitora compulsiva, talvez sejam as literárias. Até por não poder viajar com tanta frequência como posso ler livros. Um livro bem escrito pode levar-nos muito longe, mas também é verdade que estar num lugar diferente, ver e sentir uma cultura alheia à nossa e manter intacta a capacidade de nos deixarmos maravilhar também tem o mesmo efeito. Podemos juntar as duas?

TZ - Três autores que levaria consigo em forma de livros para um retiro no deserto?

AC-PV - Posso trocar o deserto por uma praia? É que eu preciso muito de água, do mar de preferência. Já sei que vão ficar inúmeros autores de fora, mas aqui vão três nomes: Ivo Andric ("A Ponte sobre o Drina", em particular), Mario Vargas Llosa (mas não a obra mais recente) e Ryszard Kapuscinski.Se me perguntar amanhã, talvez haja uma ou outra mudança, mas hoje o dia está cinzento e é o que me ocorre.

TZ - Há alguma novidade ou programação próxima da Palavra de Viajante que gostasse de partilhar com a Alegoria?

AC-PV -
A Palavra de Viajante vai viajar no próximo domingo dia 8 de Julho. O festival Escrita na Paisagem convidou-nos para preparar um almoço e animar uma conversa sobre livros e viagens. Como tema, escolhemos o Egipto e a Grécia e vamos de armas, bagagens, panelas e ingredientes até ao Monte do Quiosque, perto de Évora, para um domingo diferente.

2 comentários:

Pagu disse...

Excelente entrevista, digna do talento e imaginação mutuos.

Gostei muito e para que fique escrito, é desde há tempos, a minha livraria de eleição. Espaço e pessoas cinco estrelas. Seis estrelas.

Tamborim Zim disse...

Muito obrigada Pagu! C entrevistados assim, é fácil ter entrevistas maravilhosas:)