quinta-feira, 20 de junho de 2013

Tamborim entrevista ... Onofre dos Santos


O Conto da Sereia - Onofre dos Santos
Ed. Chá de Caxinde
 
Ávidos leitores insaciáveis de novidades, tenho o prazer de apresentar-vos o meu mais recente entrevistado que consegue a admirável proeza de ser um incansável Juiz conselheiro do Tribunal Constitucional de Angola e um escritor sem penas a medir. A reunião de alguns dos muitos contos de que é autor deu-se recentemente em O Conto da Sereia, que li numa bela manhã de Domingo e me fez pedir-lhe esta entrevista. (Obrigada querida G!) Apaixonado por aquela imensa terra de África que é Angola, Onofre dos Santos leva-nos bem mais longe que as distâncias concretas do chão, através de uma viagem cheia de cores, ritmos e sedução por tempos que se cruzam e memórias que se inebriam de futuro. No seu blog Dark Horse podem ser lidos muitos outros contos.
 
 
"(...) as palavras sempre foram como setas, de Cupido de preferência...para ferir de amor (...)"
 

Tamborim Zim - Gostaria que me precisasse as duas geografias da(s) sereia(s) dos seus contos: a terra, o lugar no mundo; a sentimental.

Onofre dos Santos - Sereia para mim tinha de ser no mar de Luanda, mar da célebre Kianda que na Baía é Iemanjá...mas, nos meus contos,  sereia é a mulher inacessível, a mulher que se adora (ou julga que se adora, que é o que importa para efeitos de conto...) a mulher que só podemos desejar, nunca tocar, amar...cujas pernas não se abrem a não ser talvez na profundidade dum mar onde já chego sem vida...

TZ - A realidade amordaça a inventiva?
 
OS - Pelo contrário acho que a incentiva... quem não quer um pouco de sonho como chantilly a cobrir e a esconder o bolo farinhento e massudo da realidade?
 
TZ A escrita é a nata sobre as espinhas do Direito, ou um decreto solene do Sonho?
 
OS - Escrever sempre foi para mim alguma coisa de sensual... a caneta a deslizar e a marcar indelevelmente o papel... voltar atrás, fazer melhor, repetir... os temas puderam ser a direito, primeiro, e por linhas tortas depois... mas as palavras sempre foram como setas, de Cupido de preferência...para ferir de amor (sempre que isso é sonhável... já que poucas vezes ou nunca é realizável, para ser amor de verdade...)

TZ - Quais são as suas referências artísticas preferenciais?
 
OS - Preciso de lhe dizer que tenho mais de setenta anos...já tive referências artísticas preferidas? Já as esqueci? Procuro outras agora? Acho que a vida está cheia de encantos especialmente nas pessoas... são elas as minhas referências artísticas...gosto imenso de ler (hoje leio um pouco obsessivamente porque o faço para aprender - e apreender ao máximo, não tenho tempo a perder) gosto de pintura, mais uma vez as pessoas (muito mais do que as paisagens) porque os gestos, os olhares contam imensas histórias... algumas não consigo sequer vislumbrar... e gosto muito de música porque ela me arrasta para um outro nível de existência em que os sentimentos afloram e vibram e nos conta o que nós somos... mas, como somos todos imitadores, mais ou menos geniais, uns dos outros, repito inconscientemente (espero) o que oiço, vejo, leio, e passo lentamente pelo alambique da imaginação... procurando descobrir um perfume, um sabor, um tom qualquer de originalidade...
 
TZ - Como é que um escritor encantador de sereias consegue reunir paciência para ser Juiz?
 
OS - A pergunta devia ser ao contrário, para ser cronologicamente verdadeira, não é? Mudando algumas coisas na equação porque gosto muito de ser juiz, é muito poético, por vezes... e as sereias no meu caminho de todos os dias são um pouco como aqueles monstros marinhos de Loch Ness... nunca se sabe se existiram e não passaram de uma visão passageira que um dia esqueceremos de todo...
 
TZ - Ora, o entrevistador também abre e fecha a "porta" da temporalidade, como a do seu último Conto da Sereia, ao sabor da evocação... Por falar nisso, qual é a porta que lhe falta abrir?
 
OS - Gostava de abrir essa porta de que falo tão afoitamente nesse meu último conto... seria bom que ela não fosse apenas imaginária! 
 
TZ - Podemos esperar lê-lo longamente, em romance, um destes dias?
 
OS - No meu último conto A porta eu digo que estou a escrever um romance e que depois só me lembro desses instantes sentimentais em que se traduzem os contos que vou escrevendo em cada semana como um quase romance em prestações... já vou em mais de 50 contos desde que me estreei em Maio do ano passado... e estou a agrupá-los por temas, afinidades, não sei se por outra forma ou critério... mas fico com a sensação que estou a escrever uma história que se poderia, depois, num relance se dizer que é afinal um romance... sobre mim mesmo, feito de uma certa saudade, não do passado que foi muito bom e até interessante, mas do futuro que ainda gostaria de conhecer... ou inventar...
 
TZ - E para terminar: alguma pergunta a que gostasse de responder e que não tenha sido feita?

OS - Acho que me perguntou tudo... a minha dúvida é se respondi a tudo o que me perguntou... mas para terminar, mesmo, quero-lhe dizer que gostei muito deste pingue-pongue consigo, os meus parabéns pela sua comunicatividade e emoção neste nosso breve diálogo pelo qual tive muito prazer de a conhecer!

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O prazer foi meu, muito obrigada Onofre dos Santos!

7 comentários:

Anónimo disse...

que interessante entrevista. parabéns menina.

Tamborim Zim disse...

Muito obrigada! :) O entrevistado é excelente, como é usual por aqui :)

Anónimo disse...

tu és excelente, e és (também) daqui

Tamborim Zim disse...

Oh, gratim pela vondade!

Anónimo disse...

não é vondade ihih

Tamborim Zim disse...

ihrililili :))

Anónimo disse...

lililó :)