domingo, 11 de março de 2012

Incomunicabilidade

Monica Vitti, Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni em La Notte (Dir. Michelangelo Antonioni, 1961)

Lembro-me de no final do filme Um Chá no Deserto um dos personagens dizer, ou talvez fosse só a frase a passar, qualquer coisa como "Se pensarmos em quantas vezes vimos um luar perfeito ao longo da vida, vamos concluir que não foram tantas assim". (Bom, isto é mesmo adaptado, leitores compreensivos.) E este sentido é-me justamente reconvocado a propósito da questão da incomunicabilidade. Ou da falta de energia, de apetência, talvez mais exato, para comunicar. É uma arte, exprime um anseio, ou uma curiosidade, ou um aconchego, sendo portando, também, um ato de amor. Dedicar tempo; cultivar olhares; drenar solidões com o nosso toque, insubstituível. O toque é insubstituível, como o olhar, como o calor das palavras e o reconforto do nosso tempo. De minutos até. Às vezes, de segundos. Em poucos segundos vota-se uma floresta à desgraça, ou povoam-se solidões, faltas.

Povavelmente, todos seremos vítimas e culpados do drama sem tempo da incomunicabilidade. Não será à toa que sou apaixonada, ou melhor, que amo o Antonioni e os seus ciclos endémicos de palavras enferrujadas e de desentendimentos. Por que será? Deixarão as pessoas de ser significado, significantes umas para as outras? Culpa-se a chatice dos dias, o cansaço bêbado em que o mundo se tem nas pernas bambas? O tédio? O desamor, a falta de paciência, tudo? A nossa própria desertificação, mal decifrada por nós, indecifrável para os outros?

O problema é que não ficaremos aqui para sempre, para nos termos pela eternidade, uns aos outros ou aos luares esplêndidos. E isso choca-me profundamente. Não domino a finitude, não pretendo, não invejo quem o faça.

Incrível o quanto as palavras esmagam; quando ditas, quando ausentes. Sementes de cura e de desesperança, o tudo e o nada. As palavras, o tudo e o nada. É o que são.

2 comentários:

Pagu disse...

Li, reli, transli, bebi, devorei, saboreei cada sílaba deste post maravilhoso, sublime, inesquecível.

Os teus posts fazem-me falta.

Tamborim Zim disse...

Amei tudo isso e ver q n tresleste! ihihih Obrigada Mana amada! Eles aí estão, nós aqui estamos, no Cosmos, sempre e em demanda. Yeah.