sábado, 4 de agosto de 2012

Quando os sentidos dançam

Jardim dos Sentidos

Lisboa estava no seu momento encantatório de final de dia. Ainda azul, ainda bem solar, já com laivos ventosos a dar a dar em derredor. Era preciso jantar e tínhamos designado devidamente o local desejado. Na Mãe d'Água, ora bem...rumámos ao mágico (acho mágico, o que querem?...) jardim das Amoreiras e dali procedemos à prospeção do terreno. É que nem rastro, cheiro ou pista. Uma antiga e simpática mercearia da zona acabou por ser a salvação, uma vez que um gentil senhor nos dotou com a orientação que se requeria mas que tardava em fugir-nos, na justa proporção a que a fome se instalava. E lá passámos de novo entre as mesmas ruas, e os quiosques que entardeciam, mas tudo se reanimava subtilmente com o exaurir lento da luz de Agosto.

Certo... Príncipe Real, aí vamos nós. Afinal é por ali a Rua da Mãe d'Água. Toma lá para melhor dominares a toponímia, Tamborim Zim. Aí chegadas, outro enigma se abateu sobre os nossos pés cansados... então mas a rua continua exatamente por onde? É que apenas nos levava a outra rua...com outro nome, e nada nas numerações parecia bater certo. Todavia, a a imagem dos belíssimos pratos que tinha visto animava-me, aconchegava-me a paciência e acicatava-me o palato azougado. Mais pessoas, mais quiosques, mais perguntas. Ah, vê a ruazinha, continue, à esquerda, depois à direita, depois... Certo.

Lá chegadas, finalmente. Ambiente agradável, com um engraçado espaço coberto por onde o ar livre entra pela frente aberta, parecendo uma tenda das Mil e uma Noites. Faltava desvendar o último - e sublime - sentido do que aí nos levara nesse contumaz encalço. Assim se deu.

Entrada: trouxinhas de tomate seco com mangericão... prontamente degustadas-devoradas em prosa, em poesia, em ais e uis do céu da boca. Continuando... um translúcido vinho branco a refrescar do esforço e a apaziguar os membros. Patés diversos, concentro-me no de gengibre... mais uma paleta de sabor. Apre, o que é bom é bom. Gorda eu seja, seguindo. Prato escolhido: Kofta. Nem migalha me sobejou: almôndegas de Kibi, arroz no ponto, ervas frescas e um extravagante envolvimento de molho de tomate simplesmente or...original, hum. Deleite por momentos a fio, e o fresco da noite já no seu pleno a temperar os efeitos do branco puríssimo e de todo o reconfortante e viajante calor daquela comida.

Meus intangíveis leitores não posso deixar, aqui e agora, de recomendar-vos com muito afã e delícia o restaurante vegetariano Jardim dos Sentidos, na Rua da Mãe d'Água, nº. 3 (Príncipe Real como referência.) Que as vossas papilas gustativas dancem freneticamente e se distendam depois no inebriante bailado da fruição! Brindo a isso e o regresso inspira-me.

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